quarta-feira, 13 de abril de 2011

Haiti quer atrair investimentos de têxteis, calçadistas e construtoras

Michel Martelly: de olho numa "parceria privilegiada" com o Brasil
A eleição de Michel Martelly para a presidência do Haiti foi comemorada discretamente pelo governo brasileiro e coincide com a passagem, pelo Brasil, de uma missão de autoridades haitianas empenhadas em atrair investimentos de empresas do Brasil para o país.


Antes das eleições, Martelly enviou emissários à embaixada do Brasil em Porto Príncipe. Ele estava interessado nas possibilidades de cooperação e parcerias entre os dois governos. Segundo um diplomata baseado no Haiti, Martelly quer uma "parceria privilegiada" com o Brasil. A missão de haitianos no Brasil, muito próxima do presidente recém-eleito, tenta mostrar que o país pode ser uma ponte atraente para entrada, sem tarifas, no mercado dos Estados Unidos.


Beneficiado por um programa de acesso privilegiado ao mercado americano, o Help (ex-Hope), o Haiti tem cotas generosas de venda aos EUA de vestimentas produzidas no país, mesmo com material importado de outras origens. Mesmo assim, só em 2012 deve entrar em funcionamento a primeira fábrica têxtil haitiana, fruto de um investimento de US$ 78 milhões da coreana Sae-A, atraída pelo generoso pacote de incentivos providenciado pelo governo local.


Em 2010, chegaram a mais de US$ 100 milhões os investimentos de empresas que pretendem se instalar no parque industrial criado na parte norte do país. O governo planeja uma fase 2, com a expectativa de chegada de novos investimentos, inclusive brasileiros.


A ministra de Comércio e Indústria do Haiti, Josseline Féthière, veio ao Brasil divulgar o pacote haitiano, acompanhada de autoridades americanas e consultores do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo Josseline, os alvos brasileiros são os setores têxtil e de vestuário, construção e calçados.


Dos três segmentos, Lionel Delatour, da comissão para a implementação do acordo Hope, diz que os que demonstraram maior interesse foram o têxtil e o de construção. "O setor de calçados está olhando mais para o mercado doméstico brasileiro. Para as indústrias têxteis, é uma oportunidade para entrar no grande mercado americano", diz. Já as construtoras têm oportunidades na reconstrução do país, com levantamento de moradias, prédios para os parques industriais, além de infraestrutura e usinas hidrelétricas.


As empresas brasileiras, diz Delatour, estão interessadas, mas elas querem mais facilidades em relação a crédito, por exemplo. Por isso o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) faz parte do roteiro da missão haitiana. Da mesma forma o Serviço Nacional da Indústria (Senai), com o qual o governo haitiano quer novo convênio para o treinamento de trabalhadores para construção, além de indústria têxtil e calçadista. Segundo Delatour, já há um convênio com recursos de US$ 4 milhões para treinamento de trabalhadores na área mecânica.


O Banco Mundial e o BID têm linhas preferenciais para construção de infraestrutura, como estradas, abastecimento de energia e conjuntos residenciais para trabalhadores - o governo americano destinou US$ 200 milhões para o BID aplicar no país.


Apesar dos terremotos que devastaram parte do país em 2010, a atração de empresas ao Haiti foi capaz de criar 2,5 mil novos empregos no mercado local, só no ano passado. A expectativa é a criação de 60 mil empregos no parque industrial da região norte do Haiti.


A visita dos haitianos tem apoio, no Brasil, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), que diz agir a pedido do governo brasileiro. "Estamos estudando as possibilidades e levando as empresas para conhecer as oportunidades", diz, ainda cauteloso, o diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel. As empresas querem saber das vantagens e dos riscos, como a violência e a superação das incertezas eleitorais. Em 2009, uma missão brasileira foi ao país com executivos da Coteminas, Vicunha Têxtil, Canatiba, Rosset / Valisère e Paramount. Na viagem dos haitianos ao Brasil, inscreveram-se para falar com os visitantes oito companhias têxteis, duas de calçados e as construtoras Andrade Gutierrez e Odebrecht. Segundo Delatour, há uma empresa têxtil brasileira que deve definir seu investimento no Haiti em breve e que está em "avançado estágio de negociação".


Os haitianos e os assessores internacionais apontam como vantagem, além do ingresso privilegiado ao mercado dos EUA, o baixo custo de mão de obra no Haiti, onde o salário médio é de US$ 75 ao mês, o baixo custo das terras (US$ 2 a US$ 5 o metro quadrado, em comparação com pelo menos US$ 20 em São Paulo) e o baixo custo logístico, pela proximidade com o porto de Miami. Grandes compradores, como a GAP, apoiam a missão e mostram interesse em aumentar as compras de produtos fabricados no Haiti, e, segundo técnicos que acompanham o assunto, têm incentivado fornecedores a instalar fábricas no país.

(colaborou Marta Watanabe)
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