quinta-feira, 19 de maio de 2011

Coteminas mantém-se como maior credor do PT


Fundada pelo vice-presidente José Alencar, morto em março, a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas) é a maior credora do PT. A dívida do partido com a empresa é antiga, de 2004, e passa dos R$ 10,1 milhões. O montante corresponde a cerca de um quarto do total do rombo partidário.
Apesar de figurar como credora do PT, a Coteminas financiou o partido em 2010 com a doação de R$ 200 mil, segundo a prestação de contas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O valor da dívida do PT com a Coteminas é quase o mesmo de quando foi contraída. Em 2004, quando Alencar já estava na Presidência como vice de Luiz Inácio Lula da Silva, o partido comprou 2,75 milhões de camisetas para as eleições, ao custo de R$ 12 milhões, que seriam pagos até o início de 2005. No entanto, as parcelas só começaram a ser pagas em 2008.
A dívida com a empresa foi analisada na CPI dos Correios, em 2005, com o escândalo do mensalão. Na época, o PT foi investigado por suspeita de pagamento ilegal à Coteminas, com recursos de caixa dois. O então tesoureiro Delúbio Soares foi responsabilizado pelo pagamento de R$ 1 milhão, em dinheiro, à empresa, sem registrar o montante na contabilidade do PT.
Josué Gomes da Silva, filho de Alencar e presidente da Coteminas, diz que desde 2008 o PT paga "rigorosamente em dia". Segundo o empresário, a dívida não será "perdoada", apesar de ter sido parcelada ao longo dos anos. "Negociamos dentro da capacidade de pagamento do partido", diz Josué. O presidente da empresa diz não se preocupar com os R$ 10,1 milhões devidos pelo PT e afirma que continuará financiando o partido e campanhas eleitorais. "As empresas podem e devem participar da vida política brasileira", afirma. Em 2009, a Coteminas faturou R$ 3,1 bilhões em vendas e teve lucro líquido de R$ 15,4 milhões.
Os bancos BMG e Rural também aparecem na lista dos maiores credores do PT. Em comum com a Coteminas, também foram citados nas denúncias do mensalão. Os dois bancos foram acusados de alimentar o esquema ilegal, mas negaram a participação.
O PT deve ao BMG R$ 1,97 milhão, mas, a exemplo da Coteminas, o banco também doou ao partido em 2010, apesar da dívida. Na eleição passada foi destinado R$ 1,6 milhão aos cofres petistas. Na prestação de contas do PT, aparecem duas referências a empréstimos bancários com o BMG: em 2003, de R$ 1,8 milhão e em 2009, de R$ 173,2 mil. O banco, em nota, reconhece apenas o primeiro. "Ao que se refere ao débito que o PT tem com BMG, o partido encontra-se com pagamento rigorosamente em dia, mediante acordo homologado em juízo, não havendo a liberação de qualquer novo recurso como citado", diz o banco. Em relação à doação, o BMG afirma que foi feita de acordo com a legislação.
Ao Banco Rural o PT deve R$ 1,8 milhão, referente a empréstimo de 2007. Procurado, o banco não se pronunciou.
Entre os maiores credores do partido estão a Braspor Gráfica e Editora, com R$ 7,9 milhões a receber do PT e a Mack Color, com R$ 4,7 milhões. Os contratos do partido com essas empresas são referentes às campanhas presidenciais de 2006 e de 2010. As empresas foram procuradas, mas a reportagem não obteve retorno.
A dívida dos candidatos à Presidência que não for paga pela campanha do candidato é herdada pelo partido. Em 2006, a campanha de reeleição de Lula terminou com um rombo de cerca de R$ 6 milhões. A eleição de Dilma Rousseff também terminou no vermelho e deixou para o PT pagar quase R$ 28 milhões. Deste valor, destaca-se o gasto de R$ 6,5 milhões com o marqueteiro João Santana e a Santana & Associados Marketing e Propaganda, que não foram pagos pela campanha de Dilma.
O PT saiu da eleição de 2010 com um rombo milionário. Mesmo se o partido usasse todo o seu patrimônio para pagar o que deve, ainda sobrariam R$ 42 milhões a pagar.
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, diz que o partido paga "criteriosamente" suas dívidas. "Estamos rigorosamente em dia com nossos credores", diz Vaccari, em entrevista ao Valor. "Não há nenhum credor reclamando da falta de pagamento do PT", afirma. "As dívidas foram renegociadas e o pagamento está sendo feito sem traumas", diz.
Neste ano, o PT deve fazer uma campanha para arrecadar recursos entre os filiados e empresários, para reduzir a dívida. O montante, no entanto, não parece preocupar o tesoureiro. "Este ano estamos pagando a dívida da campanha de 2010. Em 2012, teremos novas dívidas. Na eleição posterior, acontecerá o mesmo", diz. "Todo partido que disputa seriamente uma eleição termina endividado", afirma.
Segundo Vaccari, o partido não usará recursos do fundo partidário para pagar dívidas. O tesoureiro diz, ainda, que durante sua gestão não usou recursos desse fundo para pagamentos de credores.

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