sexta-feira, 10 de maio de 2013

Desabamento de fábrica mata centenas de trabalhadores em Bangladesh

Escrito por New Wave (Bolchevique-Leninista)

Os trabalhadores do vestuário em Bangladesh estão em pé de guerra contra a exploração e maus tratos crônicos dispensados pelos patrões. O ponto de inflexão foi atingido quando o prédio Rana Plaza de 8 andares desabou matando várias centenas de trabalhadores que ali viviam. Já há notícias de que trabalhadores estão queimando fábricas têxteis em outros locais.

A situação em Bangladesh é tensa desde o levante de Shahbag, que mobilizou estudantes e uma grande parte da intelectualidade pequeno-burguesa progressista para o julgamento dos criminosos de guerra responsáveis por crimes contra a humanidade durante a guerra de libertação em 1971. Logo após o início deste movimento, as lutas dos trabalhadores surgiram após o desastroso incêndio na fábrica de roupas Tazreen que costumava fornecer para o Wal Mart. O movimento dos trabalhadores do vestuário ganhou novo vigor, auxiliado pela desintegração política do país, que está numa situação pré-revolucionária.

A indústria do vestuário - uma indústria rica em brutalidade
A economia de Bangladesh depende inteiramente da exploração mais vergonhosa das massas empobrecidas. Isso se reflete claramente na condição dos trabalhadores do vestuário que foram expostos pelos desastres mortais que flagelam as fábricas que dominam a paisagem industrial de Bangladesh. A indústria do vestuário é historicamente notória na exploração de mão de obra barata, desde as fábricas de algodão de Manchester, no século 19, até as fábricas de Bangladesh deste século. A indústria têxtil em Bangladesh continua a ser um centro de trabalho intensivo onde os lucros são baseados na maior redução possível do custo do emprego, incluindo a segurança do trabalho.

Neste contexto, é muito importante notar que a maior parte dos 3 milhões de trabalhadores da indústria são mulheres. Os patrões preferem empregar mulheres devido às suas habilidades particulares de costura, bem como maior dificuldade na organização da luta. Esta última é a principal razão por trás da preferência por mulheres trabalhadoras no setor. É o desejo dos proprietários em controlar e disciplinar os trabalhadores sob seu comando, indispensável para permitir a exploração cruel é imposta a seus trabalhadores.

A importância da indústria e dos grupos de interesse
A indústria do vestuário responde sozinha por 70% das exportações de Bangladesh e 10% de seu PIB. Este «poder econômico» é conseguido com base em salários mínimos, que chegam a rs. 1700 (US$ 34) por mês. Não é nenhuma surpresa, então, que todos os principais produtores têxteis e de confecções estejam fazendo mais investimentos em Bangladesh para perpetuar a exploração de seu povo. Igualmente sem surpresa, muitas das principais empresas internacionais de varejo lideradas por nomes como Wal Mart usam Bangladesh como um destino prioritário de terceirização de seus produtos. Esta situação «favorável» atraiu, entre outros, investimentos indianos pesados ​​no setor de vestuário, atraindo até US $ 600 milhões (de um total de US $ 935 milhões de investimentos) só no ano passado.

Além de grandes interesses estrangeiros, há poderosos capitalistas locais politicamente vinculados ao imperialismo proprietários da maioria das 5.100 fábricas de vestuário em Bangladesh. A fábrica Rana Plaza em Savar pertencia a um oligarca deste tipo, Sohel Rana. Politicamente, ele é líder da ala jovem da Liga Awami, o partido do governo de Bangladesh. Estas empresas são, em geral, dependentes das exportações para países desenvolvidos, principalmente os EUA, que abocanha a “parte do leão” das exportações têxteis de Bangladesh.

A indústria do vestuário do Bangladesh é um dos principais beneficiários da proletarização, que foi provocada, entre outras coisas, pelo terror ecológico imposto pela Índia através da construção de uma barragem (bloqueando o fluxo natural dos rios através da fronteira, causando a seca de muitos rios nas regiões leste e oeste de Bangladesh) e pela dominação sobre a soberania marítima (de 200 milhas) de Bangladesh (pelo domínio de ilhas estratégicas perto da fronteira com Bangladesh que vedam o livre acesso à Baía de Bengala). O capitalismo indiano desempenha um papel vital ao arruinar a agricultura de Bangladesh dessas duas maneiras. Além disso, a Índia desempenha um papel fundamental no fornecimento de segurança política e militar para o governo no poder em Bangladesh, de fundamental importância para o cruel empobrecimento da população do interior de Bangladesh. Vemos os resultados desta proletarização nas mortes nos desastres do setor de vestuário.

É a combinação de vários fatores econômicos e políticos, juntamente com o contexto de proletarização da sociedade de Bangladesh, que faz do setor têxtil de Bangladesh o segundo maior do mundo, perdendo apenas para a China.

Caráter das lutas existentes
Um dos destaques do movimento dos trabalhadores do vestuário é a espontaneidade de suas lutas. A regra da maioria das lutas dos trabalhadores da indústria têxtil em Bangladesh até agora foi a realização de greves espontâneas contra os seus patrões. Uma greve nacional também já foi feita antes, mas, de um modo geral, as greves dos trabalhadores do vestuário são esporádicas e espontâneas. Exemplos notáveis foram a greve dos trabalhadores da indústria têxtil em 2006 e novamente em torno de 2009, seguindo o motim dos soldados. Entre as exigências feitas pelos trabalhadores, as principais são por salários justos, condições dignas de trabalho e dignidade no trabalho. É notável neste contexto que a maioria dos 3 milhões de trabalhadores da indústria do vestuário sejam mulheres. Isto é, em parte, assim pela política deliberada dos patrões do ramo de vestuário, que se aproveitam da fraqueza das mulheres trabalhadoras e das dificuldades relativas de organizá-las politicamente e dentro dos sindicatos, para melhor controlá-las.

A natureza da presente greve geral é caracterizada pela “raiva plebeia” contra os próprios meios de produção em que trabalham. O primeiro objeto da ira dos trabalhadores são as próprias fábricas de vestuário. Logo após a tragédia em Savar, os trabalhadores incendiaram várias fábricas em protesto. Essa ação foi uma reminiscência da descrição feita por Marx do período inicial da luta pelo proletariado no Manifesto Comunista: "Eles dirigem seus ataques não contra as condições burguesas de produção, mas atacam os próprios instrumentos de produção; eles destroem as mercadorias estrangeiras que competem com o produto de seu trabalho; eles destroem as máquinas; eles queimam as fábricas”. No entanto, ao contrário dos operários primitivos de meados do século 19, que Marx descreveu, os trabalhadores do vestuário não estão interessados em “restaurar o status abolido do trabalhador medieval”, mas em alcançar padrões mais elevados de bem-estar e melhores condições de trabalho!

Esta combinação de raiva plebeia com uma trajetória mais avançada de luta é uma combinação potencialmente revolucionária que pode abrir o caminho para lutas mais avançadas no futuro próximo e dá à luta dos trabalhadores do vestuário uma importância imensa no cenário sócio-político de Bangladesh. O que falta claramente neste quadro é a presença de uma força revolucionária organizada, que possa canalizar essa energia crua e dirigir os trabalhadores por meio de táticas mais avançadas em sua batalha contra os patrões do vestuário violentamente exploradores e seus protetores imperiais.

Ao mesmo tempo, a natureza dessa indústria obriga-nos a assumir uma perspectiva internacionalista da luta do trabalhador em Bangladesh. Devemos estar prontos angariar a solidariedade dos trabalhadores têxteis e do comércio varejista na Índia e nos EUA para apoiar a luta dos trabalhadores em Bangladesh. O apoio da classe trabalhadora indiana é fundamental para a luta em Bangladesh, pois é o capitalismo indiano que, através de seus agentes, garante a dominação política sobre Bangladesh e fez com que a exploração na indústria do vestuário seja possível. Da mesma forma, a solidariedade dos trabalhadores em empresas de varejo dos EUA, em particular aqueles que, como os da Wal-Mart e outros, são fundamentais para o fortalecimento da luta em Bangladesh e para frustrar a cadeia do capitalismo que vai de Bangladesh para a América e Europa.

Demandas para levar adiante
A luta dos trabalhadores do vestuário revela tudo o que é corrupto e explorador sobre o capitalismo em Bangladesh. Para lutar contra este sistema, devemos fazer reivindicações que correspondam às necessidades mais profundas dos trabalhadores. O programa de reivindicações transitórias deve ser construído de modo a dar uma direção consistentemente revolucionária para a luta dos trabalhadores.

- Indenização para todos os trabalhadores prejudicados e punição para os patrões do vestuário

A luta imediata mais urgente visa a indenização imediata para os trabalhadores que perderam a vida e a integridade física, devido ao desabamento das fábricas de roupas de Rana Plaza e Tazreen. O governo precisa ser pressionado para compensar imediatamente os trabalhadores e suas famílias, não só para cobrir os custos de saúde, mas para cobrir a perda de perspectivas devido à perda de renda. Além disso, os proprietários de Rana Plaza e Tazreen devem ser levados à justiça por sua negligência criminosa, que resultou na morte de cerca de 500 trabalhadores.

- A garantia de condições de trabalho decente e práticas trabalhistas

O núcleo da luta dos trabalhadores do vestuário é conseguir condições dignas de trabalho, incluindo a segurança adequada nas fábricas e um salário digno. A força de trabalho em Bangladesh é notoriamente mal paga e "barata". Esta situação deve ser aliviada pela aplicação imediata de uma lei que garanta um salário mínimo que cubra as necessidades básicas de uma família de 4 pessoas, ajustado pela inflação e pela alta do custo de vida. A cada aumento da inflação deve ocorrer um aumento proporcional do salário.

- A estatização da indústria do vestuário

As fábricas privadas de vestuário, tanto nacionais quanto estrangeiras, são responsáveis pelas péssimas práticas de trabalho em Bangladesh. Mas eles se safam por causa de sua proteção política. A única solução para destruir esta matriz viciada de exploração que caracteriza a indústria do vestuário em Bangladesh é a estatização da indústria, colocando-a sob o controle dos trabalhadores. Esta é uma pré-condição para qualquer avanço real nas condições de trabalho decentes.

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