quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Cremer vai à luta

Companhia reestrutura seu modelo de negócio para concorrer com gigantes estrangeiras de produtos médicos.
Por: Ana Paula Machado

Competir com gigantes do setor de produtos hospitalares, como as americanas Johnson&Johnson e 3M, requer diversificação, inovação e uma boa dose de ousadia. A catarinense Cremer pretende se enquadrar nesse tripé. Sob o comando do executivo Leonardo Byrro, um paulistano de 34 anos, ex-Ambev, com MBA nos Estados Unidos, a empresa de Blumenau, no Vale do Rio Itajaí, está reestruturando seu modelo de negócio, priorizando o corpo a corpo no varejo e voltando-se mais para o mercado. “Estamos deixando de lado a mentalidade estritamente industrial”, diz Byrro. Nos últimos anos, a quase octogenária Cremer abriu escritórios e fábricas em São Paulo e Minas Gerais, além de centros de distribuição em várias regiões do País, incluindo o Nordeste.


Além disso, mapeou novos segmentos em que poderia atuar, como produtos plásticos descartáveis para fins médicos. “Ter uma conexão maior com o cliente foi fundamental para o nosso crescimento”, diz Byrro. “Partimos também para aquisições e parcerias com companhias internacionais. Deu muito certo.” Embora não existam números oficiais, a Cremer afirma ser a líder no segmento de produtos têxteis hospitalares, como esparadrapo, gazes, algodão e bandagens, também utilizado para práticas esportivas. Essa liderança autoproclamada é sustentada por uma agressiva política de aquisições.

Entre 2009 e 2013, a Cremer investiu aproximadamente R$ 250 milhões em suas operações, sendo R$ 150 milhões na compra de empresas menores e em parcerias com fabricantes estrangeiras que passaram a vender seus produtos no País com a marca Cremer. É o caso da americana De Royal, fabricante de coletores plásticos, e da australiana Ansell, que produz luvas usadas em cirurgias. Em 2011, a Cremer adquiriu a paulistana P.Simon, fabricante de frascos, coletores, drenos e extensores, por R$ 15 milhões. No ano seguinte, pagou R$ 32 milhões pela Embramed, também de São Paulo, reforçando a atuação no segmento de produtos hospitalares descartáveis de plástico.

“Com as aquisições, ganhamos escala para a competir com as grandes do setor”, diz Byrro. A julgar pelos balanços financeiros, a ofensiva deu resultado. A companhia saiu de um faturamento de R$ 324 milhões, em 2008, para R$ 571 milhões, no ano passado, e de um Ebitda de R$ 40 milhões para R$ 84 milhões no mesmo período. O aumento da receita também estimulou a inovação. Cerca de 4% da receita da Cremer, em 2013, foi gerada pela venda de produtos lançados no mercado nos últimos dois anos. “Temos que inovar, tanto em produtos como na gestão da companhia”, diz Byrro. Toda a reforma na estrutura de negócio da Cremer vinha sendo desenhada pelo fundo de investimento paulista Tarpon, que adquiriu 5,71% do seu capital em 2008, participação que já está em 71,98%.

O Tarpon, que tem em sua carteira empresas como Arezzo e BRF, pretende adquirir a totalidade das ações da Cremer até o fim deste mês. O fundo vai oferecer R$ 17 por ação aos demais acionistas. O papel é cotado atualmente a R$ 14,60. “A ideia não é fechar o capital da companhia”, diz Byrro, que foi indicado à presidência da Cremer pelo Tarpon. “Vamos continuar seguindo todas as regras de governança.” A intenção, segundo ele, é continuar na bolsa sem ter ações negociadas no pregão. O reposicionamento no mercado, segundo o analista da Fator Corretora, Pedro Zabeu, deu à Cremer mais fôlego para crescer no setor de saúde, que movimentou cerca de R$ 15 bilhões no ano passado.

“A empresa tinha a postura de se apresentar apenas como fabricante de produtos hospitalares descartáveis”, diz Zabeu. “Agora, é conhecida também como fornecedora desses produtos.” Como parte da estratégia de expansão de seus negócios, a Cremer irá entrar no mercado de produtos voltados para o tratamento de feridas e cicatrizantes. Segundo Byrro, a companhia já está em negociação com duas fabricantes para o fornecimento desses produtos, que receberão o rótulo da Cremer. “Já temos de quatro a cinco empresas parceiras”, diz o executivo. “Estamos indo constantemente aos Estados Unidos e à Europa para avaliar possíveis negócios.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário