SÃO PAULO - Assim como em 2010, no próximo ano o setor de healthcare deverá seguir pegando carona no forte crescimento econômico do Brasil. Isso porque a trajetória de expansão deste segmento vai muito além de valuations, múltiplos ou qualquer análise financeira, sendo guiada por mudanças sociais e pela penetração da urbanização no território nacional.
Principalmente por conta da ascensão social nos últimos anos, em parte motivada pelas transferências de renda do governo e pelo crescimento econômico brasileiro, a demanda no setor se torna cada vez mais crescente. Somando a esta tendência positiva, o estado precário da saúde pública impossibilita qualquer concorrência estatal neste mercado.
Com tantas projeções positivas para a economia nacional no próximo ano, é praticamente unânime a perspectiva otimista de bancos e corretoras para as empresas do setor de saúde. A última versão do Relatório Focus, do Banco Central, revela que a perspectiva do mercado em relação ao crescimento da economia brasileira em 2010 gira em torno de 7,61%. A taxa é bem alta, visto que em pouco mais de dois anos o mundo se deparava com uma das maiores crises da história, iniciada nos Estados Unidos.
Além disso, de acordo com levantamento realizado pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), o Brasil gerou, entre janeiro de 2003 e setembro de 2010, 14.725.039 postos de trabalho. No período analisado, houve crescimento de 51,34% no nível de emprego, equivalente ao aumento médio anual de 5,5%, correspondendo a um incremento de 1,9 milhão de postos de trabalho ao ano.
Vale lembrar que a maioria das empresas beneficia seus trabalhadores com planos de saúde, explicitando a importância do crescimento do emprego formal na cena interna.
Ações voam, com crescimento a nível chinês!
Enquanto o País cresce em ritmo chinês, as ações do setor de saúde acompanham este movimento. Desde janeiro deste ano até o fechamento desta (14), os principais papéis do segmento mostravam fortes ganhos. É o caso da Dasa (DASA3, +56,87%, R$ 22,35), Cremer (CREM3, +42,59%, R$ 17,90), Amil (AMIL3, +30,15%, R$ 17,75), OdontoPrev (ODPV3, +81,27%, R$ 24,00), Fleury (FLRY3, +35,42%, R$ 24,75) e Drogasil (DROG3, +58,17%, R$ 43,80). A Profarma (PFRM3) é a única exceção do setor, com desempenho de -3,21% desde o início do ano.
As performances das ações nem se comparam ao desempenho do Ibovespa em igual período, com ligeira valorização de +0,23%, na casa dos 69 mil pontos. O motivo para isso é simples: os mercados internacionais são afetados pelo clima de cautela quanto à atual situação da crise fiscal europeia e ao possível aperto monetário na China. Por outro lado, o Brasil segue em meio a um cenário macroeconômico favorável, que beneficia as ações ligadas ao forte crescimento doméstico, como as do setor de healthcare.
Cenário interno positivo, com envelhecimento da população
Além do crescimento econômico, outro fator que corrobora para as boas perspectivas ao setor de saúde é o envelhecimento da população. Isso porque, a maior parte dos gastos da população entre 65 e 75 anos, cerca de 70%, é com itens relacionados à saúde, conforto e alimentação, segundo pesquisa recente realizada pela QuorumBrasil.
De acordo com o estudo, as despesas com remédios e plano de saúde consomem 26% da renda das pessoas nesta faixa etária. A maior parte (77%) não tem o hábito de poupar, contra 23% que dizem guardar um pouco de dinheiro no final do mês, percentual este que sobe para 34% entre os que praticam atividade física.
"Uma vez que as pessoas vão ficando mais velhas, é natural que elas aumentem seu consumo de medicamentos, tanto em termos de variedades como de quantidades. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população com mais de 65 anos de idade representava 6,6% dos brasileiros em 2008, sendo que, em 2050, esta taxa deverá ser de 22,7%. A expectativa de vida também será maior, já tendo crescido de 67 anos em 1990 para 73 em 2008", disse Marianna Waltz, do BB Investimentos.
Avanço econômico em 2011 será menor, mas ainda forte
De acordo com o sócio e gestor da DLM Invista, Luiz Iani, o ano de 2011 não deve mostrar um crescimento econômico tão expressivo quanto neste ano, contudo, as empresas do setor de healthcare continuarão em meio a um cenário positivo. "É um segmento que deve continuar crescendo em 2011, apesar do avanço econômico menor que em 2010, mas ainda forte", disse.
A crescente inflação no front doméstico segue pressionando o regime de metas do governo, que deverá promover uma elevação da taxa básica de juros já no início de 2011, o que é amplamente esperado pelo mercado. "Esse cenário de juros maiores pressiona um pouco o crescimento do País, por isso o PIB (Produto Interno Bruto) de 2011 deverá ser menor", explicou Iani. Cabe lembrar que, atualmente, a taxa Selic está em 10,75% ao ano.
Cremer e os bons dividendos
Além da performance muito acima do Ibovespa neste ano, a Cremer conquista os olhos dos analistas por seu histórico de boa pagadora de dividendos, o qual deve continuar pesando positivamente nas projeções para 2011. O analista Luiz Augusto Pacheco, da Omar Camargo, avalia que está muito confiante em relação ao futuro da empresa.
"Nossa primeira recomendação da Cremer foi em janeiro de 2010. Na época, nosso preço justo era de R$ 24,79 e a ação era negociada em torno dos R$ 15,60. Hoje, a ação é negociada em torno de R$ 17,00. Não parece um retorno muito bom, não é? Acontece que não podemos nos esquecer dos dividendos", disse, destacando que a companhia já pagou mais de R$ 3,00 por ação em proventos neste ano, com dividend yield de 19,49%.
De acordo com Pacheco, o fato de a empresa ter reduzido o número de trabalhadores, em decorrência da aquisição de novas máquinas em 2010, não deverá trazer impacto negativo às operações no próximo ano, tão pouco ao mercado de trabalho da região de Blumenau, em Santa Catarina - onde a fábrica da Cremer está localizada -, pois, segundo a Omar Camargo, lá é um local de "emprego em abundância". A perspectiva de Pacheco é que a companhia continue efetuando novos investimentos em equipamentos em 2011, beneficiando ainda mais a Cremer.
Atenção ao mercado de algodão e luvas
Por outro lado, a cotação do algodão e o mercado de luvas são dois drivers a serem observados nos próximos 12 meses. Isso porque, o algodão atingiu em 2010 sua máxima em 140 anos, fazendo com que a Cremer tivesse que renegociar preços com clientes para tentar repassar parte da alta dos custos.
Sobre isso, a Omar Camargo acredita que "a situação deverá se normalizar no meio do ano que vem", com expectativa de que a safra brasileira seja 40% maior na comparação anual. Apesar disso, a Cremer já trabalha com um preço médio para 2011 de R$ 2,55 por libra (medida de peso utilizada no mercado de algodão), um patamar bem elevado.
A questão das luvas exige uma atenção ainda maior por parte dos investidores. Acontece que as duas grandes exportadoras globais deste material ficam na Malásia, e uma nova lei aprovada naquele país fez com que um destes fornecedores perdesse uma parcela significativa no mercado brasileiro, obrigando-o a rebaixar os preços para poder reaver parte de seu share, o que trouxe desequilíbrio para o segmento no País.
De acordo com Pacheco, porém, a Lemgruber, que é uma das cinco importadoras de luvas no País e também é parceira da Cremer, está começando a produzir o material aqui mesmo em território nacional, além de estar ventilando a possibilidade de aumentar sua linha de produção para que não precise mais importar. "Caso ela consiga fazer isso de forma eficiente e a preços competitivos, a Cremer poderá se beneficiar muito", disse o analista.
Confiante para 2011, Pacheco destacou que a Cremer continua sendo muito bem gerida e está inserida em um setor praticamente imune a ciclos econômicos. Neste sentido, a Omar Camargo mantém seu preço justo de R$ 24,79 para as ações da Cremer, com recomendação de compra.
Amil: ainda colhendo frutos da aquisição da Medial
Em novembro de 2009, a Amil adquiriu a Medial em uma operação que envolveu cerca de R$ 612,5 milhões. Mesmo dois anos depois da compra, a expectativa é que a companhia continue colhendo os frutos positivos desta fusão ao longo de 2011. Isso porque o processo de adequação dos negócios de ambas as empresas ocorreu ao longo de 2010, enquanto que os resultados desse processo começaram a aparecer apenas no 3T10, mas devem se intensificar nos próximos 12 meses.
De acordo com o analista Iago Whately, da Banco Fator Corretora, um dos principais drivers que deve ser observado em relação à fusão das companhias é a perda de clientes da Medial. Whately ressaltou em relatório que a Amil esperava por uma redução da receita neste ano em função do processo de adequação da carteira da Medial. No entanto, isso não ocorreu, pois o reajuste de preços compensou a perda de clientes.
Além disso, o analista destaca que a sinistralidade da Medial teve redução importante no terceiro trimestre deste ano, o que demonstra uma tendência positiva e que deverá continuar ao longo de 2011. "A Amil acredita que vai parar de perder clientes da carteira da Medial. Para aumentar a retenção, a companhia melhorou o atendimento, mudou a marca e lançou campanha para reforçar a imagem da Medial, o que tem gerado em contrapartida maior satisfação dos clientes", avaliou Whately, em relatório.
Em relação aos possíveis novos projetos da Amil no próximo ano, a Banco Fator Corretora disse que a própria Amil entende que uma nova aquisição não se decide em função da disponibilidade de caixa, mas sim de uma boa oportunidade. Segundo Whately, os alvos são empresas que ofereçam sinergias e cujo preço seja até 6 vezes o Lajida (geração operacional de caixa) após sinergias. Somado a isso, a Amil está aberta a estudar parcerias com instituições financeiras, caso faça sentido, segundo a corretora.
Fleury: novos investimentos
Para 2011, um dos principais pontos a serem observados pelos investidores serão os investimentos da Fleury. Isso porque, em 2010, a companhia revelou sua necessidade de investir nas unidades do Laboratório Weinmann, adquiridas por ela em meados deste ano. A operação permitiu que a companhia ampliasse sua participação no mix de serviços dos exames de análises clínicas, que tem menor preço médio. "A previsão é que o preço médio supere a inflação no quarto trimestre de 2010 e em 2011, sobretudo em função da maior participação dos serviços de imagem no mix", destacou Iago Whately, da Banco Fator Corretora, em relatório.
Cabe destacar que a Fleury reduziu seu guidance de capex para R$ 269 milhões (de R$ 400 milhões) em 2010 e 2011. Este movimento, segundo a própria Fleury, reflete a reavaliação das necessidades de investimento da companhia e não a eventuais dificuldades ou a expectativa de menor crescimento. Em relatório, o analista da Fator avaliou ainda que a companhia não deverá se utilizar da estratégia do mercado de franquias para crescer em 2011.
Neste sentido, com outras companhias melhor posicionadas para se beneficiarem do cenário positivo ao setor de saúde dentro do mercado brasileiro, a recomendação de Whately segue como não atraente aos papéis da Fleury.
Crescimento do setor farmacêutico beneficia grandes players, como a Drogasil
A Drogasil, por sua vez, se mostra inserida em um cenário pouco mais otimista. Segundo Marianna Waltz, do BB Investimentos, o segmento farmacêutico brasileiro tem crescido a uma taxa média composta bastante robusta nos últimos anos, impulsionado pelo forte avanço da economia e dos maiores salários, que ampliam a possibilidade de aquisições pessoais. Além disso, a analista ressalta que esta tendência em curso ainda está longe de "atingir sua maturidade".
"A venda de remédios no varejo também está experimentando uma tendência de consolidação, com clara vantagem aos grandes players do segmento. Eles todos deverão se beneficiar da maior competitividade dentro do setor, o que tem se tornado difícil aos pequenos concorrentes. Somado a isso, ainda há muito espaço para crescer no interior dos estados, onde a competição e as despesas são menores", disse Marianna.
Animada por este cenário, a analista acredita que os fundamentos da Drogasil são muito fortes e isso deve pesar positivamente para a companhia no próximo ano. "Esperamos que a companhia balanceie expansão e lucratividade nos próximos anos. Além disso, também estimamos um crescimento nas vendas de 23% entre 2010 e 2013, com uma margem Ebitda (relação percentual entre receita líquida e geração operacional de caixa) de 6,9% em 2011, com ROIC (retorno sobre capital investido) de 23% no ano que vem", completou Marianna.
O BB Investimentos possui um preço-alvo de R$ 51,00 para as ações da Drogasil ao final de 2011, mas com recomendação de manutenção, visto que a ação da companhia obteve um forte crescimento desde a oferta de ações em 2007, o que limita em partes o potencial de valorização no futuro.
Aumento da concorrência!
Embora o cenário para a Drogasil seja bastante positivo para o próximo ano, é preciso se atentar para o aumento da concorrência no segmento farmacêutico. Outros grandes competidores já estão se movimentando para não ficarem para trás na disputa por market share com a empresa, inclusive se captalizando através de ofertas de ações.
A Droga Raia apresentou no final de novembro os termos de seu IPO (Initial Public Offering), com a oferta primária e secundária de ações ordinárias, processo iniciado quando a companhia entrou com pedido de distribuição dos papéis junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), em 26 de outubro. As ações da Droga Raia serão negociadas no Novo Mercado da BM&F Bovespa sob o código RAIA3.
A operação será realizada no Brasil, contando com esforços de colocação no exterior exclusivamente para investidores não-institucionais. Serão colocadas no mercado inicialmente 23,720 milhões de ações, sendo 20,930 mihões em oferta primária e 2,790 milhões em oferta secundária.
Dasa deve se beneficiar da incorporação da MD1
Recentemente, a Dasa esclareceu ao mercado os principais pontos levantados na divulgação da incorporação das ações da MD1 Diagnósticos em setembro deste ano. Os frutos desta operação deverão ser os principais catalisadores para o desempenho da companhia em 2011, sendo que a receptividade tanto dos analistas quanto dos investidores foi positiva.
Recentemente, a Dasa esclareceu ao mercado os principais pontos levantados na divulgação da incorporação das ações da MD1 Diagnósticos em setembro deste ano. Os frutos desta operação deverão ser os principais catalisadores para o desempenho da companhia em 2011, sendo que a receptividade tanto dos analistas quanto dos investidores foi positiva.
Segundo análise de Iago Whately, da Banco Fator Corretora, as definições mais aprofundadas pelo comunicado são positivas, uma vez que consegue contornar as dificuldades relacionadas às negociações com os acionistas da MD1. O analista destacou em relatório que a possibilidade da Dasa fazer uso de ativos de acionistas da MD1, como equipamentos, em hospitais da Amil, deverá ampliar a oferta de serviços para usuários da empresa, o que pode estimular a reação de concorrentes, dado que caracteriza associação entre as companhias.
Whately lembrou ainda dos riscos que envolvem as operações de benefícios fiscais do ágio, principalmente após a autuação da BM&FBovespa (BVMF3) pela Receita Federal, em decorrência de discordâncias na forma do cálculo do valor da amortização fiscal do ágio. "Por ora, continuamos com a recomendação atraente para as ações da Dasa", disse.
OdontoPrev e o acordo com o BB
O acordo firmado entre a OdontoPrev e o Banco do Brasil (BBAS3) deve continuar em foco em 2011. Isso porque, quando anunciado, foi recebido negativamente pelo mercado. Porém, depois de esclarecida, a operação passou a ganhar um viés positivo entre os analistas, que agora passam a considerá-la em um cenário de longo prazo.
Juliana Rozenbaum e Marcio Osako, do Itaú, se surpreenderam com o fato de que a joint venture acrescentará apenas 260 mil novos planos à OdontoPrev, enquanto o projeto inicial apontava para 400 mil. “A diferença de filiação de 140.000 membros deve-se ao fato de que a OdontoPrev já presta serviços à parte da base de funcionários do BB através das associações profissionais, nas quais as pessoas entram a fim de obter um plano em grupo”, disseram.
Já o analista Gustavo Pires Oliveira, do UBS, apesar de se dizer decepcionado com o número de membros que serão adicionados à parceria, afirmou que a notícia é positiva no geral, uma vez que demonstra o comprometimento das empresas com o plano original. Deste modo, a expectativa do BB Dental atingir a marca de um milhão de clientes em 2011 não deverá ser concretizada, uma vez que a companhia não deverá ser formada neste ano, ressaltou Gustavo. “Enquanto isso pode ser negativo no curto prazo, nós acreditamos que os termos da incorporação e o potencial de longo prazo são mais importantes para agregar valor”, destacou.
Resultados da Profarma devem pesar em 2011
Única empresa do setor com performance negativa em 2010, a Profarma foi penalizada neste ano por conta dos resultados aquém do esperado, influenciados pelo cenário mais competitivo, que deve perdurar em 2011.
O analista Iago Whately, da Banco Fator Corretora, observou o resultado da Profarma como "ruim", inferior às expectativas da corretora e inferior, inclusive, às expectativas do mercado. Para Juliana Rozenbaum e Marcio Osako, do Itaú, o resultado do 3T10 apresentado também foi negativo.
Segundo o Banco Fator, o baixo desempenho foi resultado, sobretudo, pela liquidação de débitos fiscais, que atingiram a cifra de R$ 11 milhões. Para a corretora do Itaú, o único ponto positivo foi a redução forte e mais rápida do que o esperado do ciclo de caixa para 48,8 dias, contra 51,5 no mesmo período do ano anterior e 55,3 das estimativas da corretora. Foi o nível mais baixo desde 2006.
Os resultados foram decepcionantes para o Itaú. A recuperação do Ebitda que era esperada não ocorreu - recuou 2% em comparação ao trimestre anterior, acumulando, deste modo, queda de 26% até setembro. De igual modo, a recuperação nas vendas e na margem bruta, também esperada no trimestre, não foi verificada.
Nestas condições, o Banco Fator Corretora acredita que a Profarma continue a enfrentar os desafios de um ambiente competitivo nos próximos anos, o que tem se acentuado com o processo de consolidação do varejo farmacêutico. A recomendação da corretora aos papéis da empresa é de manutenção.
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